Nesta coleção, passado e presente se aproximam: os jovens vão encontrar uma edição diferenciada e moderna dos principais clássicos da literatura brasileira e portuguesa. A exemplo do que já é feito em outros países, em que uma mesma obra é editada com diferentes níveis de informação, os títulos da série Travessias apresentam um minucioso trabalho de comentários e notas explicativas à margem do texto integral, elaborado de forma concisa e acessível pelo professor Douglas Tufano, reconhecido autor de livros didáticos na área de língua portuguesa e literatura.
O romance é narrado em primeira pessoa por José Bento, o Bentinho, em retrospectiva. Já idoso e recluso - daí o apelido Dom Casmurro - ele conta fatos da sua infância, quando vivia com a mãe viúva, D. Glória, e estava destinado a seguir a carreira eclesiástica por causa de uma promessa materna. Relembra, então, como conseguiu se livrar do seminário com a ajuda do melhor amigo Escobar, e finalmente se casar com Capitu, a quem amava desde criança. Mas quando Escobar morre, Bentinho estranha a reação de Capitu no velório do amigo, e nasce a suspeita de uma possível traição da mulher, que vai se transformando em certeza à medida que o filho Ezequiel cresce e torna-se parecido com Escobar. Torturado pelo ciúme, Bentinho não consegue mais suportar a presença da esposa e do filho e decide viver sonho. .
A história é narrada de maneira irreverente e irônica por um "defunto autor", que revela todas as hipocrisias e vaidades das pessoas com quem conviveu - e também as próprias. Em capítulos curtos, o romance começa com Brás Cubas contando a própria morte; depois, em retrospectiva, ele vai narrando os principais momentos de sua vida: a paixão juvenil pela prostituta Marcela, os estudos em Portugal, o amor por Virgília - que era casada com Lobo Neves e manteve com Brás Cubas uma relação extraconjugal por anos -, a amizade com Quincas Borba, um sujeito metido a filósofo, e por fim, a morte.
A Moreninha apresenta características típicas dos folhetins lidos pelo público da época, formado por estudantes e mocinhas, não por acaso personagens desse romance de estreia de Joaquim Manuel de Macedo. Augusto, Leopoldo e Fabricio, jovens estudantes de Medicina, pertencentes a famílias ricas, vão passar o dia de Sant'Ana na ilha da avó de Filipe, um de seus colegas. Augusto é um rapaz que se confessa volúvel: sente-se atraído por todas as moças que encontra e diz ser incapaz de se apaixonar por muito tempo por uma só mulher. Mas isso começa a mudar depois desse Hm de semana na ilha, onde ele conhece a espevitada Carolina, a Moreninha, irmã de Filipe.
É a história de Leonardo, filho enjeitado de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça, criado pelos padrinhos, um barbeiro e uma parteira. Os dois se afeiçoam ao menino, que, no entanto, está sempre aprontando. O garoto não quer saber de estudar nem de trabalhar, e cresce como um verdadeiro vadio. O narrador, que frequentemente interrompe a narrativa para comentar as ações das personagens, focaliza a vida agitada de Leonardo: sua paixão pela mulata Vidinha, seu namoro com Luisinha e seus planos para escapar das perseguições do severo major Vidigal, temido chefe de polícia da cidade.
Em Iracema, José de Alencar criou uma explicação poética para as origens de sua terra natal, daí o subtítulo Lenda do Ceará. A virgem dos lábios de mel tornou-se símbolo do Ceará, e seu filho, Moacir, nascido de sua relação com o colonizador português Martim, representa o primeiro cearense, fruto da união das duas raças. A obra mescla elementos históricos e fictícios. O guerreiro português Martim Soares Moreno é figura histórica e seu nome está ligado à colonização daquela região. Seu amigo índio Poti também existiu; depois de batizado, recebeu o nome de Felipe Camarão. Já a heroína, a índia tabajara Iracema, é fruto da imaginação do autor. O nome Iracema, porém, não parece tão gratuito. É um anagrama de América. Por isso, Iracema pode ser vista como uma representação simbólica da América virgem e inexplorada, conquistada pelo colonizador branco.
Nesse romance, José de Alencar compôs seu último e melhor perfil feminino: o de Aurélia Camargo, moça órfã e pobre, dotada de grande firmeza de caráter. Ela se apaixona por Fernando Seixas e é correspondida. Ele também é pobre, único sustento da mãe viúva e duas irmãs solteiras, mas gosta de se exibir nos círculos sociais cariocas como um rapaz elegante e bem de vida. Para isso, não economiza e, levado pela vaidade, acaba deixando a família em dificuldades financeiras. Sem saber o que fazer, troca Aurélia por Adelaide, uma moça rica. Entretanto, com a morte do avô, Aurélia recebe inesperadamente uma grande herança e torna-se muito rica. Movida pelo despeito, resolve "comprar" seu ex-noivo. O final é a reconciliação dos dois e a vitória do amor. O desenvolvimento do enredo lembra uma transação comercial, o que, aliás, é indicado pelos próprios títulos das quatro partes em que se divide o romance: preço, quitação, posse e resgate.