OPINIÃO
A Educação pós-pandemia: é preciso agir agora
A pandemia de Covid-19 não acabou e qualquer previsão de desfecho ainda é incerta, seja pela possibilidade de novas ondas ou pelos altos patamares de infecção e mortalidade que permaneciam em meados do ano. Porém, o enfrentamento de suas consequências para a Educação de nossas crianças e adolescentes precisa começar imediatamente. Não é mais caso de olhar para o futuro: é no presente, aqui e agora, que as medidas precisam começar a ser tomadas. É urgente dimensionar a evasão e o abandono provocados pela doença, pelo fechamento das escolas e pelos efeitos econômicos. Ainda em 2021, é preciso conhecer, planejar e agir para mitigar os impactos sobre a aprendizagem. As políticas públicas devem atuar em todos os planos.
Há muito a fazer. Talvez um primeiro passo seja chamar a atenção para a imensa importância da escola, como um equipamento social imprescindível para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes: direitos de aprendizagem, sim, mas também direito à alimentação, à saúde, ao cuidado integral. Se aprendemos a valorizar ainda mais o SUS, devemos também reconhecer que as instituições de ensino são essenciais à diminuição da desigualdade social que volta a crescer.
Ainda que importantes defasagens estejam se agravando neste momento, é um erro acusar os sistemas de ensino. Precisamos lembrar que a Educação pública não é um fracasso e reconhecer que há o que ser feito para aprimorá-la. Educar quase 50 milhões de alunos e formar 2,2 milhões de professores são tarefas gigantescas para qualquer país. E o Brasil vem conseguindo avançar, como mostra o Anuário Brasileiro da Educação Básica. Aprendemos que bom planejamento, foco correto nas políticas públicas, bom desenho e modelagem de propostas, implementação e continuidade dão resultado.
A pandemia também mostrou a falta que faz um Sistema Nacional de Educação, pelo qual devemos trabalhar. No entanto, mesmo sem essa articulação entre os diferentes entes federativos, muitos Estados e Municípios foram capazes de agir. Aprendemos que o governo federal é importante, mas que Estados e Municípios têm um papel crucial para suprir apoio de forma articulada entre eles. Por isso, no Todos Pela Educação, temos apoiado diretamente o trabalho de Estados e Municípios, inclusive com formações criadas especialmente para as prefeituras.
A Educação remota tem sido fundamental para manter o aprendizado durante o isolamento social, mas guarda limitações. Os desafios de educar os alunos que estão hoje na escola, retornando ainda que parcialmente ao ensino presencial, estão colocados e precisamos agir: cresce a responsabilidade de Estados e Municípios, fica patente a necessidade de coordenação do Ministério da Educação.
As políticas afirmativas devem ser defendidas e preservadas, em um contexto em que a desigualdade prospera. Precisamos garantir a permanência de um sistema de avaliação que já foi considerado um dos melhores do mundo. O próprio Enem precisa ser fortalecido para garantir o sucesso das reformas em curso no Ensino Médio. O monitoramento público que fazemos há dez edições, com o Anuário, apresenta-se como uma ferramenta muito importante para identificarmos todos esses pontos.
Acima de tudo, é preciso que os gestores públicos tenham na Educação um foco absolutamente prioritário, desde já, e para sempre.
Priscila Cruz
Presidente-executiva do Todos Pela Educação
Luciano Monteiro
Diretor de Relações Institucionais da Santillana no Brasil